terça-feira, 4 de junho de 2013

Valter Hugo Mãe - Testemunho

Este depoimento, na minha opinião, é capaz de ser dos mais pessoais e sentidos. Isto porque este depoimento foi cedido por uma pessoa muito próxima do escritor, a sobrinha mais velha do Valter, a Bruna.

Um dia, há muitos anos atrás, o meu tio decidiu que ia fazer uma limpeza geral em todas as “trenguisses” que tinha em casa e ia para a feira da bandoma vendê-las. Muito provavelmente, com todo o dinheiro que ganhasse ia direitinho comprar discos e CD’s para completar à sua coleção de uns “miles” e muitos.
Claro que quando soube que ele estava a pensar ir, garanti o meu lugar no meio das tralhas no carro. Não podia deixar de ir. Como era de esperar ele não me disse que não e ficamos combinados.
Chegado o dia, levantamo-nos antes das galinhas para podermos chegar là ao recinto da feira a tempo de arranjar um lugar “altamente totil fixe” (coisas que o meu tio dizia muito, na brincadeira) para vermos se vendíamos o máximo de artigos possível. Então passou-se assim uma manhã, durante a qual me diverti mesmo muito, porque falei com as pessoas, que achavam piada que eu estivesse lá, tão pequenina, toda contente; porque vendemos montes de coisas e, no fim, o meu tio deu-me o meu “ordenado”; porque foi uma experiência completamente nova e que eu repetia sempre que fosse possível.



Bruna Freitas

Valter Hugo Mãe - Prémios e Obras

Em 2007 recebe o Prémio Literário José Saramago, no qual o próprio José Saramago entrega o prémio e considera o romance O remorso de baltazar serapião atingiu um “tsunami literário”.
Valter já recebeu muitos outros prémios pelas suas obras. Em 2009 recebeu o Troféu Figura do Futuro, atribuído pelo Correio da Manhã; em 2010 recebeu a Pena Camilo Castelo Branco e a medalha de mérito singular de Vila do Conde
Mais recentemente, em 2012, Valter recebeu o Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, tornando-se assim o terceiro português a receber o prémio lusófono.
Atualmente Valter continua a viver em Vila do Conde, a escrever as suas obras e a viajar pelo mundo para apresentar os seus livros.


Obras:
O filho de mil homens (2011)
A máquina de fazer espanhóis (2010)
O rosto (2010)
O apocalipse dos trabalhadores (2008)
São salvador do mundo (2008)

O remorso de baltazar Serapião (2006)




Livro O Rosto numa montra em Vila do Conde

Valter Hugo Mãe - Vida

Valter Hugo Lemos, mais conhecido por Valter Hugo Mãe, é um vilacondense adotado pela cidade. Valter nasceu em Saurimo, Angola, em 1971. Aos 2 anos mudou-se com a família para Portugal, passou a sua infância em Paços de Ferreira e só em 1980 foi viver para Vila do Conde.

Licenciou-se em Direito e fez uma pós-graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
Escritor, editor, artista plástico e cantor português. Valter é vocalista do grupo musical Governo, é autor de livros para os mais novos e por vezes dedica-se às artes plásticas. É letrista dos músicos/projetos Mundo Cão, Paulo Praça, Indignu, Salto, Frei Fado Del’Rei, Blandino e Eliana Castro.

Em 1999 fundou a Quase edições com Jorge Reis-Sá, ai publicou obras de Mário Soares, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, António Ramos Rosa, Artur do Cruzeiro, entre outros. Nos anos de 2001, co-dirige a revista Apeadeiro na Quasi e em 2006 funda a editora Objecto Cardíaco.



Livros do Valter Hugo Mãe expostos numa montra de Vila do Conde



Livros do Valter numa montra de Vila do Conde

Camilo Castelo Branco - Obras

Obras:
Mistérios de Lisboa (1854)
Duas épocas na vida (1854)
O livro negro do padre Dinis (1855)
Vingança (1858)
Carlota Ângela (1858)
A morta (1860)
O romance de um homem rico (1861)
Amor de perdição (1862)
Amor de salvação (1864)
O olho de vidro (1866)
O retrato de Ricardina (1868)
A mulher fatal (1870)
Doze casamentos felizes (1861)
Estrelas funestas (1861)
Estrelas propícias (1863)
Coração, cabeça e estômago (1862)

Camilo Castelo Branco - Vida

A 1877, Camilo vê morrer na Póvoa, aos 19 anos, o seu filho predileto, Manuel Plácido Pinheiro Alves, do segundo casamento, sendo sepultado no cemitério do Largo das Dores.
Camilo era conhecido pelo mau feitio, mas Póvoa mostrou outro lado. Conta António Cabral, nas páginas de “O Primeiro de Janeiro” de 3 de junho de 1890: “No mesmo hotel em que estava Camilo, achava-se um medíocre pintor espanhol, que perdera no jogo da roleta o dinheiro que levava. Havia três semanas que o pintor não pagava a conta do hotel, e a dona, uma tal Ernestina, ex-atriz, pouco satisfeita com o procedimento do hóspede, escolheu um dia a hora do jantar para o despedir, explicando ali, sem nenhum género de reservas, o motivo que a obrigava a proceder assim. Camilo ouviu o mandado de despejo, brutalmente dirigido ao pintor. Quando a inflexível hospedeira acabou de falar, levantou-se, no meio dos outros hóspedes, e disse: - A D. Ernestina é injusta. Eu trouxe do Porto cem mil reis que me mandaram entregar a esse senhor e ainda não o tinha feito por esquecimento. Desempenho-me agora da minha missão. E, puxando por cem mil reis em notas entregou-as ao pintor. O Espanhol, surpreendido com aquela intervenção que estava longe de esperar, não achou uma palavra para responder. Duas lágrimas, porém, lhe deslizaram silenciosas pelas faces, como única demonstração de reconhecimento.”
Camilo Castelo Branco reconstituiu nas suas obras o panorama dos costumes de Portugal daquela época, quase sempre com uma enorme sintonia com as maneiras de ser e sentir do povo português. Em 1889 torna-se uma celebridade nacional como escritor, recebe uma homenagem da Academia de Lisboa.
Atormentado pela doença, os olhos que aos poucos iam perdendo a visão, fez com que Camilo entrasse numa depressão profunda. Ao saber que iria ficar completamente cego, Camilo não aguentou e pôs fim a sua vida, na casa sua casa em Vila Nova de Famalicão.

Camilo Castelo Branco - Vila do Conde/Póvoa de Varzim

A sua ligação a Vila do Conde acontece devido a um problema de saúde, é nessa altura, em 1970, que Camilo se muda para essa cidade e ai permanece até 1871. Durante esse tempo escreveu a peça de teatro “O Condenado”, assim como imensos poemas, crónicas, artigos de opinião e traduções.
Outras obras de Camilo estão também associadas a Vila do Conde. Na obra “A Filha do Arcediago”, descreve a passagem de uma noite do arcediago, com um exército, numa estalagem conhecida por Estalagem das Pulgas, local que antigamente pertencia ao Mosteiro de São Simão da Junqueira, situada no lugar de Casal de Pedro, freguesia da Junqueira. Camilo dedicou ainda o romance “A Enjeitada” a um vilacondense seu conhecido, o Dr. Manuel Costa.
Entre 1873 e 1890, Camilo deslocava-se regularmente a Póvoa de Varzim, onde jogava e escreveu parte da obra no antigo Hotel Luso-Brazileiro, junto ao Largo do Café Chinês. Ai reunia-se com personalidades de caráter intelectual e social, como o pai de Eça de Queirós, José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, o poeta e dramaturgo poveiro Francisco Gomes de Amorim, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, António Feliciano de Castilho, entre outros. Sempre que se deslocava à Póvoa, convivia com o Visconde de Azevedo no Solar dos Carneiros.


Casa onde Camilo Castelo Branco residiu quando esteve em Vila do Conde



Frase indicativa na fachada do prédio 



Camilo Castelo Branco - Vida

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, um dos escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa, nasceu a 16 de março de 1825 em Lisboa e aos 65 anos deu por finalizada a sua vida no dia 1 de junho, na sua casa em Vila Nova de Famalicão.

Era apontado por muitos como iniciado na Maçonaria do Norte, algo um pouco contraditório visto ter lutado a favor dos Miguelistas, ordem de São Miguel da Alda, criada para combater a Maçonaria e até mesmo a sua própria literatura demonstrava defender os ideais legitimistas e conservadores ou tradicionais, contrariando assim o que era dito sobre ele.

A vida atribulada que teve serviu lhe de inspiração para as suas novelas, foi dos primeiros escritores portugueses a viver somente do que ganhava das suas obras. Era um escritor sujeito as modas, por escrever para o público, mas isso não fez com que deixasse de ter uma escrita muito original. A sua novela mais importante é titulada de “Amor de Perdição”, publicada em 1863.
Em 1844, mudou-se para o Porto para ingressar no curso de Medicina, mas não chegou a terminar. Um ano depois iniciou-se na poesia e no ano seguinte inicia-se no teatro e no jornalismo, atividades que nunca deixou de exercer.

Devido ao seu caráter instável, irrequieto e irreverente, teve amores tumultuosos com mulheres casadas e solteiras, o que fez com que tivesse alguns problemas. Numa das vezes chegou mesmo a ser processado por adultério, mas logo foi absolvido.