A 1877, Camilo
vê morrer na Póvoa, aos 19 anos,
o seu filho predileto, Manuel Plácido Pinheiro Alves, do segundo casamento, sendo
sepultado no cemitério do Largo
das Dores.
Camilo
era conhecido pelo mau feitio, mas Póvoa mostrou outro lado. Conta António
Cabral, nas páginas de “O Primeiro de
Janeiro” de 3 de junho de 1890: “No
mesmo hotel em que estava Camilo, achava-se um medíocre pintor espanhol, que
perdera no jogo da roleta o dinheiro que levava. Havia três semanas que o
pintor não pagava a conta do hotel, e a dona, uma tal Ernestina, ex-atriz,
pouco satisfeita com o procedimento do hóspede, escolheu um dia a hora do
jantar para o despedir, explicando ali, sem nenhum género de reservas, o motivo
que a obrigava a proceder assim. Camilo ouviu o mandado de despejo, brutalmente
dirigido ao pintor. Quando a inflexível hospedeira acabou de falar,
levantou-se, no meio dos outros hóspedes, e disse: -
A D. Ernestina é injusta. Eu trouxe do Porto cem mil reis que me mandaram
entregar a esse senhor e ainda não o tinha feito por esquecimento.
Desempenho-me agora da minha missão. E,
puxando por cem mil reis em notas entregou-as ao pintor. O Espanhol,
surpreendido com aquela intervenção que estava longe de esperar, não achou uma
palavra para responder. Duas lágrimas, porém, lhe deslizaram silenciosas pelas
faces, como única demonstração de reconhecimento.”
Camilo Castelo Branco reconstituiu nas
suas obras o panorama dos costumes de Portugal daquela época, quase sempre com
uma enorme sintonia com as maneiras de ser e sentir do povo português. Em 1889 torna-se
uma celebridade nacional como escritor, recebe uma homenagem da Academia de
Lisboa.
Atormentado pela doença, os olhos que
aos poucos iam perdendo a visão, fez com que Camilo entrasse numa depressão
profunda. Ao saber que iria ficar completamente cego, Camilo não aguentou e pôs
fim a sua vida, na casa sua casa em Vila Nova de Famalicão.
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