terça-feira, 4 de junho de 2013

Valter Hugo Mãe - Testemunho

Este depoimento, na minha opinião, é capaz de ser dos mais pessoais e sentidos. Isto porque este depoimento foi cedido por uma pessoa muito próxima do escritor, a sobrinha mais velha do Valter, a Bruna.

Um dia, há muitos anos atrás, o meu tio decidiu que ia fazer uma limpeza geral em todas as “trenguisses” que tinha em casa e ia para a feira da bandoma vendê-las. Muito provavelmente, com todo o dinheiro que ganhasse ia direitinho comprar discos e CD’s para completar à sua coleção de uns “miles” e muitos.
Claro que quando soube que ele estava a pensar ir, garanti o meu lugar no meio das tralhas no carro. Não podia deixar de ir. Como era de esperar ele não me disse que não e ficamos combinados.
Chegado o dia, levantamo-nos antes das galinhas para podermos chegar là ao recinto da feira a tempo de arranjar um lugar “altamente totil fixe” (coisas que o meu tio dizia muito, na brincadeira) para vermos se vendíamos o máximo de artigos possível. Então passou-se assim uma manhã, durante a qual me diverti mesmo muito, porque falei com as pessoas, que achavam piada que eu estivesse lá, tão pequenina, toda contente; porque vendemos montes de coisas e, no fim, o meu tio deu-me o meu “ordenado”; porque foi uma experiência completamente nova e que eu repetia sempre que fosse possível.



Bruna Freitas

Valter Hugo Mãe - Prémios e Obras

Em 2007 recebe o Prémio Literário José Saramago, no qual o próprio José Saramago entrega o prémio e considera o romance O remorso de baltazar serapião atingiu um “tsunami literário”.
Valter já recebeu muitos outros prémios pelas suas obras. Em 2009 recebeu o Troféu Figura do Futuro, atribuído pelo Correio da Manhã; em 2010 recebeu a Pena Camilo Castelo Branco e a medalha de mérito singular de Vila do Conde
Mais recentemente, em 2012, Valter recebeu o Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, tornando-se assim o terceiro português a receber o prémio lusófono.
Atualmente Valter continua a viver em Vila do Conde, a escrever as suas obras e a viajar pelo mundo para apresentar os seus livros.


Obras:
O filho de mil homens (2011)
A máquina de fazer espanhóis (2010)
O rosto (2010)
O apocalipse dos trabalhadores (2008)
São salvador do mundo (2008)

O remorso de baltazar Serapião (2006)




Livro O Rosto numa montra em Vila do Conde

Valter Hugo Mãe - Vida

Valter Hugo Lemos, mais conhecido por Valter Hugo Mãe, é um vilacondense adotado pela cidade. Valter nasceu em Saurimo, Angola, em 1971. Aos 2 anos mudou-se com a família para Portugal, passou a sua infância em Paços de Ferreira e só em 1980 foi viver para Vila do Conde.

Licenciou-se em Direito e fez uma pós-graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
Escritor, editor, artista plástico e cantor português. Valter é vocalista do grupo musical Governo, é autor de livros para os mais novos e por vezes dedica-se às artes plásticas. É letrista dos músicos/projetos Mundo Cão, Paulo Praça, Indignu, Salto, Frei Fado Del’Rei, Blandino e Eliana Castro.

Em 1999 fundou a Quase edições com Jorge Reis-Sá, ai publicou obras de Mário Soares, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, António Ramos Rosa, Artur do Cruzeiro, entre outros. Nos anos de 2001, co-dirige a revista Apeadeiro na Quasi e em 2006 funda a editora Objecto Cardíaco.



Livros do Valter Hugo Mãe expostos numa montra de Vila do Conde



Livros do Valter numa montra de Vila do Conde

Camilo Castelo Branco - Obras

Obras:
Mistérios de Lisboa (1854)
Duas épocas na vida (1854)
O livro negro do padre Dinis (1855)
Vingança (1858)
Carlota Ângela (1858)
A morta (1860)
O romance de um homem rico (1861)
Amor de perdição (1862)
Amor de salvação (1864)
O olho de vidro (1866)
O retrato de Ricardina (1868)
A mulher fatal (1870)
Doze casamentos felizes (1861)
Estrelas funestas (1861)
Estrelas propícias (1863)
Coração, cabeça e estômago (1862)

Camilo Castelo Branco - Vida

A 1877, Camilo vê morrer na Póvoa, aos 19 anos, o seu filho predileto, Manuel Plácido Pinheiro Alves, do segundo casamento, sendo sepultado no cemitério do Largo das Dores.
Camilo era conhecido pelo mau feitio, mas Póvoa mostrou outro lado. Conta António Cabral, nas páginas de “O Primeiro de Janeiro” de 3 de junho de 1890: “No mesmo hotel em que estava Camilo, achava-se um medíocre pintor espanhol, que perdera no jogo da roleta o dinheiro que levava. Havia três semanas que o pintor não pagava a conta do hotel, e a dona, uma tal Ernestina, ex-atriz, pouco satisfeita com o procedimento do hóspede, escolheu um dia a hora do jantar para o despedir, explicando ali, sem nenhum género de reservas, o motivo que a obrigava a proceder assim. Camilo ouviu o mandado de despejo, brutalmente dirigido ao pintor. Quando a inflexível hospedeira acabou de falar, levantou-se, no meio dos outros hóspedes, e disse: - A D. Ernestina é injusta. Eu trouxe do Porto cem mil reis que me mandaram entregar a esse senhor e ainda não o tinha feito por esquecimento. Desempenho-me agora da minha missão. E, puxando por cem mil reis em notas entregou-as ao pintor. O Espanhol, surpreendido com aquela intervenção que estava longe de esperar, não achou uma palavra para responder. Duas lágrimas, porém, lhe deslizaram silenciosas pelas faces, como única demonstração de reconhecimento.”
Camilo Castelo Branco reconstituiu nas suas obras o panorama dos costumes de Portugal daquela época, quase sempre com uma enorme sintonia com as maneiras de ser e sentir do povo português. Em 1889 torna-se uma celebridade nacional como escritor, recebe uma homenagem da Academia de Lisboa.
Atormentado pela doença, os olhos que aos poucos iam perdendo a visão, fez com que Camilo entrasse numa depressão profunda. Ao saber que iria ficar completamente cego, Camilo não aguentou e pôs fim a sua vida, na casa sua casa em Vila Nova de Famalicão.

Camilo Castelo Branco - Vila do Conde/Póvoa de Varzim

A sua ligação a Vila do Conde acontece devido a um problema de saúde, é nessa altura, em 1970, que Camilo se muda para essa cidade e ai permanece até 1871. Durante esse tempo escreveu a peça de teatro “O Condenado”, assim como imensos poemas, crónicas, artigos de opinião e traduções.
Outras obras de Camilo estão também associadas a Vila do Conde. Na obra “A Filha do Arcediago”, descreve a passagem de uma noite do arcediago, com um exército, numa estalagem conhecida por Estalagem das Pulgas, local que antigamente pertencia ao Mosteiro de São Simão da Junqueira, situada no lugar de Casal de Pedro, freguesia da Junqueira. Camilo dedicou ainda o romance “A Enjeitada” a um vilacondense seu conhecido, o Dr. Manuel Costa.
Entre 1873 e 1890, Camilo deslocava-se regularmente a Póvoa de Varzim, onde jogava e escreveu parte da obra no antigo Hotel Luso-Brazileiro, junto ao Largo do Café Chinês. Ai reunia-se com personalidades de caráter intelectual e social, como o pai de Eça de Queirós, José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, o poeta e dramaturgo poveiro Francisco Gomes de Amorim, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, António Feliciano de Castilho, entre outros. Sempre que se deslocava à Póvoa, convivia com o Visconde de Azevedo no Solar dos Carneiros.


Casa onde Camilo Castelo Branco residiu quando esteve em Vila do Conde



Frase indicativa na fachada do prédio 



Camilo Castelo Branco - Vida

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, um dos escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa, nasceu a 16 de março de 1825 em Lisboa e aos 65 anos deu por finalizada a sua vida no dia 1 de junho, na sua casa em Vila Nova de Famalicão.

Era apontado por muitos como iniciado na Maçonaria do Norte, algo um pouco contraditório visto ter lutado a favor dos Miguelistas, ordem de São Miguel da Alda, criada para combater a Maçonaria e até mesmo a sua própria literatura demonstrava defender os ideais legitimistas e conservadores ou tradicionais, contrariando assim o que era dito sobre ele.

A vida atribulada que teve serviu lhe de inspiração para as suas novelas, foi dos primeiros escritores portugueses a viver somente do que ganhava das suas obras. Era um escritor sujeito as modas, por escrever para o público, mas isso não fez com que deixasse de ter uma escrita muito original. A sua novela mais importante é titulada de “Amor de Perdição”, publicada em 1863.
Em 1844, mudou-se para o Porto para ingressar no curso de Medicina, mas não chegou a terminar. Um ano depois iniciou-se na poesia e no ano seguinte inicia-se no teatro e no jornalismo, atividades que nunca deixou de exercer.

Devido ao seu caráter instável, irrequieto e irreverente, teve amores tumultuosos com mulheres casadas e solteiras, o que fez com que tivesse alguns problemas. Numa das vezes chegou mesmo a ser processado por adultério, mas logo foi absolvido. 

Testemunho sobre Ruy Belo

Mais uma vez, o Sr. João cede o seu depoimento sobre um escritor que faz parte da história de Vila do Conde. Desta vez este vilacondense escolheu um momento muito pessoal que partilhou com o amigo Ruy Belo, o casamento do escritor.

Estávamos a tratar dos últimos preparativos para que Ruy saísse para a Igreja, para o seu casamento. Quando de repente ele diz: “Antes de sair, como despedida de solteiro quero olhar as águas do Ave que corre ali em frente e no seu percurso desagua nas massas águas do Atlântico, lá no fundo”.
Como um adeus a quem muito se quer, abandonou a varanda onde nos encontrávamos e lá seguimos para a Igreja de Santa Clara, no Monte do Mosteiro, quando de lá saiu era já um jovem homem casado.

Este foi o meu testemunho, do dia do casamento que com Ruy Belo partilhei.


João Freitas



Fotografia tirada a uma fotografia do Sr. João, momento em que
aparece a cumprimentar Ruy Belo no dia do seu casamento

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ruy Belo - Vila do Conde


A sua ligação a Vila do Conde acontece ainda em Lisboa, quando frequenta a Faculdade de Letras e ai conhece Maria Teresa, uma vilacondense com quem viria a casar na Igreja de Santa Clara de Vila do Conde, em 1966. A partir desse dia Ruy e Teresa Belo passaram a ser visita assídua em Vila do Conde, local onde era habitual passarem o verão. Ruy frequentava o Café Nacional, local de uma das tertúlias de José Régio e ponto de encontro dos opositores ao regime de Salazar. Régio e Ruy criaram uma forte amizade e era habitual terem longas conversas nas noites de verão, nesses convívios Ruy chegou a confessar guardar as melhores recordações, com provas que incluíam dedicatórias, autógrafos e fotografias. Nas suas deslocações a terra de Régio, Ruy encontrava-se com o também seu amigo Eugénio de Andrade.
O seu interesse pela cidade que o acolhia nos meses de verão é muitas vezes demonstrado nas suas prosas:


Do alto do monte do Mosteiro espraiar os olhos pelo casario da velha urbe é um regalo!
Deixar escorrer a vista pela zona ribeirinha detendo-se um pouco nos Estaleiros Navais, encher a alma de imagens belas e desaguar no mar, junto à capelinha da Sr.ª da Guia, dá-nos novo alento de vida. Vila do Conde, terra de belezas e encantos naturais, possui um conjunto notável de monumentos representativos de várias épocas, com realce para o núcleo quinhentista, e foi berço e cofre dos corações de poetas e artistas. José Régio aqui nasceu e por cá passaram outros grandes vultos da literatura como Camilo, Eça, Junqueiro e Antero, Sónia e Robert Delaunney no seu refúgio em Portugal. Também o pintor poeta Júlio/Saúl Dias aqui nasceu. Mas Vila do Conde é também terra de marinheiros e calafates. Aqui se construíram, aparelharam e equiparam caravelas que sulcaram “mares nunca dantes navegados”. Homens moldados pelos ventos do mar ajudaram a crescer esta terra que, hoje, continua bela e progressiva.

Obras de Ruy Belo:

Aquele Grande Rio Eufrates (1961)
O Problema da Habitação (1962)
Boca Bilingue (1966)
Homem de Palavra(s) (1969)
Transporte no Tempo (1973)
País Possível (1973)
A Margem da Alegria (1974)
Toda a Terra (1976)
Despeço-me da Terra da Alegria (1978)
Oh as casas as casas as casas
O Portugal Futuro
E Tudo era possível


Teresa e Ruy no dia do casamento


Obras editadas com poemas de Ruy Belo

Ruy Belo - Vida

O lugar onde o coração se esconde
é onde o vento norte corta luas brancas no azul do mar
e onde o poeta solitário escolhe igreja pra casar
O lugar onde o coração se esconde
é em Dezembro o sol cortado pelo frio
e à noite as luzes a alinhar o rio
O lugar onde o coração se esconde
é onde contra a casa soa o sino
e dia a dia o homem soma o seu destino
O lugar onde o coração se esconde
é sobretudo agosto vento música raparigas em cabelo
feira das sextas-feiras gado pó e povo
é onde se consente que nasça de novo
àquele que foi jovem e belo
mas o tempo a pouco e pouco arrefeceu
O lugar onde o coração se esconde
é o novo passado a ida pra o liceu
Mas onde fica e como é que se chama
a terra do crepúsculo de algodão em rama
das muitas procissões dos contra-luz no bar
da surpresa violenta desse sempre renovado mar?
O lugar onde o coração se esconde
e a mulher eterna tem a luz na fronte
fica no norte e é vila do conde


É desta forma que Ruy Belo descreve Vila do Conde, não a terra que o viu nascer, mas a terra que o acolheu em alguns momentos importantes da sua vida.

Ruy de Belo nasceu em S. João da Ribeira, Santarém, a 27 de Fevereiro de 1933 e faleceu a 8 de Agosto de 1978 em Queluz. Viveu na sua terra natal até 1951, altura em que entrou na Universidade de Coimbra para iniciar o curso de Direito e mais tarde transferiu para a Universidade de Lisboa e ai terminou o curso com uma tese com o nome "Ficção Literária e Censura Eclesiástica". Nesse mesmo ano, em 1956, Ruy partiu para Roma para fazer doutoramento em Direito Canónico na Universidade de S. Tomás de Aquino. De regresso a Lisboa, em 1961, frequentou a Faculdade de Letras, local onde conheceu Maria Teresa e com quem viria a casar cinco anos depois, e licenciou-se em Filosofia Românica.
Ainda que por um breve período de tempo, Ruy ocupou o cargo de diretor-adjunto no então Ministério da Educação Nacional, mas por se relacionar com opositores ao regime da época, pela sua participação na greve académica de 1962 e pela sua candidatura como deputado em 1969 pelas listas de Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, teve as suas atividades vigiadas e condicionadas. Em 1971 mudou-se para Espanha para ser leitor de Português na Universidade de Madrid, permaneceu lá seis anos até que regressou a Portugal e foi-lhe recusado a possibilidade de lecionar na Faculdade de Letras de Lisboa e passou a dar aulas a noite na Escola Técnica do Cacém. Ruy Belo faleceu um ano depois na sua casa em Queluz, a 8 de agosto, vítima de um edema pulmonar.

Ruy era um poeta e ensaísta português, apesar de ter tido uma curta carreira na literatura é dos maiores poetas da segunda metade do século XX, tendo muitas das suas obras sido reeditadas diversas vezes.


Ruy Belo ainda jovem (fotografias tiradas ao livro "Ruy Belo Coisas de Silêncio")



Ruy Belo (fotografia tirada ao livro "Ruy Belo Coisas de Silêncio")

terça-feira, 28 de maio de 2013

Antero de Quental - Publicações

Em 1866 Antero muda-se para Lisboa e ai trabalha como tipógrafo, profissão que exerceu quando se mudou para Paris em 1867 e regressa a Lisboa em 1868. No ano seguinte Antero funda o jornal A República e dois anos depois juntamente com Eça de Queirós, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão planeia uma série de “Conferências Democráticas” realizadas no Cassino Lisbonense.
Durante os anos seguintes colaborou em diversas publicações periódicas: Branco e Negro (1896-1898), Contemporânea (1915-1926), A imprensa (1885-1891) e O Thalassa (1913-1915).
Em 1874 adoece em Ponta Delgada e é-lhe diagnosticado tuberculose, durante um ano descansa e em 1876 reedita Odes Modernas.

Em 1886 foram publicados os Sonetos Completos, coletados e prefaciados por Oliveira Martins, obra considerada pelos críticos a melhor obra poética, possuía características autobiográficas e simbolistas. Entre março e outubro de 1887, permaneceu nos Açores, voltando mais tarde a Vila do Conde, local onde foi criado em 1995 o “Centro de Estudos Anterianos”.

Após regressar a Lisboa em maio de 1891, Antero instala-se em casa da irmã Ana de Quental, nessa altura já lhe tinha sido diagnosticado um distúrbio bipolar, o estado depressivo era já permanente. A 5 de junho Antero regressou a Ponta Delgada e a 11 de setembro suicida-se com dois tiros num banco de jardim junto ao Convento da Esperança.

Algumas das muitas obras de Antero:

Sonetos de Antero (1861)
Odes Modernas (1865, na origem da polémica Questão Coimbrã).
Bom Senso e Bom Gosto (1865)
Portugal perante a Revolução de Espanha (1868
Primaveras Românticas (1872)
Sonetos Completos (1886)



Placa com o nome do largo onde fica a casa de Antero




Largo de Vila do Conde onde se situa a casa de Antero de Quental



Antero de Quental - Vida

"Aqui as praias são amplas e belas, e por elas me passeio ou me estendo ao sol com a voluptuosidade que só conhecem os poetas e os lagartos adoradores da luz".

Esta foi a descrição que Antero de Quental fez a quando da sua estadia, por motivos de saúde, em Vila do Conde entre os anos 1881-1891, o escritor disse ter sido o melhor período da sua vida.

Antero Tarquínio de Quental poeta e filósofo português, nasceu a 1842 em Ponta Delgada nos Açores. Considerado um líder intelectual do realismo em Portugal, dedicou-se à reflexão dos problemas filosóficos e sociais do seu tempo.
Iniciou os estudos em Ponta Delgada e aos 16 anos mudou-se para Coimbra para estudar Direito. Ai fundou a Sociedade do Raio, onde pretendia renovar o país pela literatura.
Em 1861 surgem as primeiras publicações do escritor “Sonetos de Antero” e quatro anos depois publica “Odes Modernas” onde enaltece a revolução, influenciado pelo socialismo experimental. Nessa mesma época iniciou a Questão Coimbra, onde Antero e muitos outros poetas foram atacados por Antônio Feliciano de Castilho, por eles instigarem a revolução intelectual. Em sinal de resposta, Antero de Quental publicou uma carta aberta com o título Bom Senso e Bom Gosto e nela defende a liberdade de pensamento dos novos escritores.



Casa onde viveu Antero de Quental


Placa com descrição sobre Antero




Testemunho sobre Saúl Dias

Francisco Mesquita, meu antigo professor e antigo presidente do Circulo Católico de Operários de Vila do Conde, local ao qual se refere no testemunho que se segue.

Testemunho:
Tive a honra de conhecer pessoalmente o engº Júlio dos Reis Pereira, sobretudo nas atividades que tive o gosto de desenvolver no Círculo Católico de Operários de Vila do Conde, dele sempre recebendo uma palavra de conforto e estímulo, num relacionamento extensível à sua esposa Maria Augusta e ao filho José Alberto, cuja amizade partilhei ao longo de muitos anos e que, infelizmente, também já desapareceram do mundo dos vivos.

Recordo dois momentos especiais com estre extraordinário poeta e pintor:

A oferta de uma belíssima aguarela à referida associação centenária, por ele assinada e autografada, que fez questão de doar nos anos 80, num momento importante de reinauguração da sede social, após profundas obras de remodelação, assim simbolizando o seu apoio ao desenvolvimento das suas atividades culturais;

A entrega que me fez de um livro que reúne a maior parte das suas poesias, que assinou e no qual apôs uma carinhosa dedicatória, que me deixou particularmente sensibilizado e que guardo religiosamente num sítio especial da minha biblioteca.

A grandeza de Júlio-Saúl Dias já é sobejamente reconhecida nos meios artísticos, intelectuais e universitários, mas estou certo que a sua valiosa e multifacetada obra continuará a galgar patamares de excelência rumo a uma justificada eternização.



Francisco Mesquita



Imagens cedidas pelo Prof. Francisco

Boletim informativo do CCO de 2002

Cartaz de evento comemorativo

sábado, 25 de maio de 2013

Júlio Saúl Dias ou Saúl Dias?

Júlio Saúl Dias no mundo da pintura e Saúl Dias no mundo das letras, pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira, nasceu a 1902 e faleceu a 1983, aos 81 anos, em Vila do Conde.
Desde cedo Saúl Dias demonstrava clara apetência pela cultura, publicando poemas num semanário da sua terra. Chegou a trabalhar com o irmão José Régio em ilustrações e no grafismo de obras deste, foi também um dos principais colaboradores da revista literária “Presença”.
Saúl Dias, tal como o irmão, andou um pouco pelo país em trabalho, viveu um ano em Coimbra e mais tarde radicou-se em Évora, cidade onde viveu até 1972 ano em que regressou a Vila do Conde.
Formado em Engenharia Civil na Faculdade de Ciências do Porto, frequentou também, simultâneo, a Escola de Belas Artes durante dois anos.
Seja na pintura ou na literatura, é nos possível desfrutar do trabalho do Júlio através de exposições que por vezes são realizadas na sua terra natal e através de algumas obras que foram publicadas quer em vida quer postumamente.
Em 1932 Saúl Dias publica o livro de poesia Mais e mais, e em 1935 realiza a sua primeira exposição na Sociedade Nacional de Belas-Artes, no ano a seguir participa na Exposição dos Artistas Modernos Independentes ao lado de Almada Negreiros e Vieira da Silva.
No ano de 1936 começa a trabalhar na Direção dos Edifícios e Monumentos Nacionais de Coimbra e no ano a seguir muda-se para Évora, onde fica até ao momento em que regressa a Vila do Conde.
Enquanto reside em Évora, devido a proximidade das localidades, Júlio começa a colecionar bonecos de Estremoz, o que fez com que adquirir-se 375 peças que foram expostas no Museu de Estremoz em 1975.


Algumas das obras literárias de Saúl Dias:


Mais e Mais (1932)
Tanto (1934)
Ainda (1938)
Sangue (1952)
Edição de uma obra poética, 1932-1960 (1962)




A casa onde viveu Saúl Dias em Vila do Conde




Obras editadas com poemas e pinturas de Júlio


Eça de Queirós - Publicações


Anos mais tarde Eça de Queirós fez uma viagem até ao Oriente, durante 6 semanas, para assistir à inauguração do canal de Suez no Egito como correspondente do jornal Diário Nacional, foi acompanhado do irmão da sua futura esposa, D. Luís de Castro e D. Emília de Castro. Viajou ainda pela Palestina e ai recolheu algumas informações para duas das suas obras O Egipto e A Relíquia.
Ingressou pela carreira diplomática e foi nomeado cônsul de Portugal em Havana em 1872, Newcastle em 1874, Bristol em 1878 e Paris em 1888, onde veio a falecer. Durante o período que esteve em Inglaterra, Eça iniciou algumas das suas obras mais conhecidas, O Primo Basílio, Os Maias, O Mandarim e A Relíquia. A última obra da sua autoria é A Ilustre Casa de Ramires
Mesmo afastado de Portugal, onde vinha esporadicamente, Eça nunca cortou relações durante as suas ausências, continuou a publicar crónicas e contos em jornais como A Actualidade, Gazeta de Noticias, A Revista Moderna, o Diário de Portugal e Diário de Noticias em Lisboa com a rubrica “Cartas de Inglaterra”.
Aos 40 anos Eça de Queirós casa com a irmã do seu companheiro de viagem, D. Emília de Castro com quem teve 4 filhos, Alberto, António, José Maria e Maria.
Morre e 16 de Agosto de 1900 na sua casa perto de Paris e está sepultado em Santa Cruz do Douro.



As obras mais conhecidas junto a estátua na Póvoa de Varzim

Eça de Queirós - Percurso


Eça, considerado um dos maiores romancistas da literatura portuguesa, primeiro e principal escritor realista português, renovador profundo e perspicaz da prosa literária portuguesa.
Após terminar o ensino secundário 1861, Eça matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra terminando o curso em 1866. Durante essa época Eça de Queirós travou amizade com Antero de Quental e fez parte do grupo académico da escola de Coimbra, que em 1865 revoltaram-se contra o grupo de escritores de Lisboa, apelidada de Escola do Elogio Mutuo. Nesta revolta estudantil, chamada de semente do realismo em Portugal, Eça de Queirós foi um mero observador daquilo que se passava, a revolta era chefiada por Antero de Quental e Teófilo Braga contra António Feliciano de Castilho, estes três últimos também escritores portugueses.
Após terminar o curso em Coimbra, Eça mudou-se para Lisboa e ai exerceu advocacia e jornalismo. Dirigiu o Distrito de Évora, e faz parte da Gazeta de Portugal com folhetins de domingo que mais tarde foram editados em volumes com o título de Prosas Bárbaras.



Homenagem a Eça na Praça do Almada na Póvoa de Varzim



Eça de Queirós













Eça de Queirós - Vida

José Maria de Eça de Queirós nasceu a 25 de novembro de 1845, mas na Póvoa de Varzim ou em Vila do Conde? As duas cidades “disputam” a naturalidade de um dos grandes romancistas português através de documentos que dizem poder comprovar a verdadeira naturalidade do escritor, contudo sem nunca chegar a um veredito. Mas as disputas não se ficam por aqui. Segundo o livro Eça de Queiroz – Vila do Conde Terra do Nosso Berço de A. Monteiro dos Santos, um livro escrito por um vilacondense que defende que Eça nasceu na sua terra, também Viana do Castelo e Aveiro dizem que Eça de Queirós será de lá. No caso de Viana do Castelo o motivo é por sua mãe Carolina Augusta d’Eça viver naquela bela cidade antes e depois do nascimento do escritor. Já Aveiro defende-se através da certidão de óbito do escritor, onde poderá dizer que é natural de Aveiro, mas ao que tudo indica não passa de um erro.
Apesar de todas estas incertezas quanto a sua naturalidade, há coisas que não se põem em dúvida, é o excelente escritor português em que se tornou.




A casa onde Eça de Queirós viveu em Vila do Conde




Azulejos que indicam onde Eça viveu




Igreja Matriz de Vila do Conde, onde Eça de Queirós foi batizado



Cópia do Bilhete de Identidade de Eça de Queirós
Fotografia tirada ao livro " Eça de Queirós Vila do Conde Terra do Nosso Berço